Uma matéria publicada nesta terça-feira (1º) pelo jornal O GLOBO expôs a atuação do crime organizado, leia-se tráfico de drogas, com tentáculos dentro da Prefeitura de Arraial do Cabo referente aos governos anteriores. A investigação jornalística revela um esquema no qual as maiores facções criminosas do Brasil, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), estariam se infiltrando nas estruturas municipais para lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas e do tráfico de drogas.
O caso mais recente exposto pela grande mídia envolve Marcos Antônio Ferreira do Nazareth, o Marquinho de Nicodemedes, candidato a vereador em Arraial do Cabo. Marquinho já foi condenado por tráfico de drogas e atualmente está preso por participação em um esquema de desvio de recursos públicos no município, com a utilização de laranjas e desvio de milhões do dinheiro público na gestão do ex-Prefeito Renatinho Vianna, do qual Marquinho de Nicomedes integra o grupo político.
Segundo a investigação, mesmo dentro da prisão, ele mantinha influência nas licitações fraudulentas da prefeitura cabista.
De acordo com o Ministério Público do Rio (MPRJ) Marquinho de Nicomedes, candidato a Vereador em Arraial do Cabo, que está preso, abriu empreiteiras e uma delas, em nome de um “laranja” que venceram,entre 2018 e 2020, período do governo do ex-Prefeito Renatinho Vianna, concorrências públicas repletas de irregularidades para construir dois postos de saúde em Arraial do Cabo. O dinheiro foi depositado nas contas das empresas,mas as obras praticamente não saíram do papel até as irregularidades virem à tona, no início de 2021. Os Prédios,que deveriam estar atendendo a população àquela altura,só foram entregues na gestão seguinte. Réu por diversos crimes em decorrência da fraude, Nazareth tem, no entanto, uma ficha criminal ainda mais longa: em 2008, ele foi condenado a 4 anos 2 meses de prisão por integrar uma quadrilha que transportava cargas de maconha e cocaína de Mato Grosso do Sul até Arraial do Cabo.Três anos depois,recebeu uma pena de 5anos e 6meses após ser preso em flagrante na Rodoviária do Rio enquanto levava drogas, numa mochila, para a Região dos Lagos.
Em depoimento prestado à Polícia Civil em 2020, ainda no início da investigação sobre o desvio de dinheiro público, Nazareth admitiu que atuou como matuto para facções — ou seja, negociava e transportava cargas de droga a partir da fronteira. Ele alegou, contudo, que largou o tráfico após o nascimento do filho, em 2011. Por sugestão de amigos políticos, narrou, passou a investir no ramo da construção.
O inquérito indica que o político abriu duas empresas: a M. A. F. do Nazareth Incorporação e Construção, em seu nome; e a Atlantic Construtora, em nome de Jerry Anderson de Araújo Silva, o Jerry da Coca-Cola, um auxiliar de serviços gerais que trabalhava na prefeitura, com salário de R$ 1 mil. Para a Promotoria, Silva era um laranja, e as duas firmas foram criadas unicamente para dividir os contratos fechados com a prefeitura local — e, assim, dificultar a fiscalização.
Para garantir o direcionamento das licitações, o candidato pagava propinas a funcionários do município: a investigação conseguiu mapear transferências de uma de suas empresas, a Atlantic, para o então vice-prefeito, Sérgio Lopes de Oliveira Carvalho, três secretários e outros nove servidores. Atualmente, Nazareth, Jerry Silva, Sérgio Lopes e outras 16 pessoas são réus pelos crimes de organização criminosa, falsidade ideológica, peculato, corrupção ativa e passiva, ordenação de despesa não autorizada, falso testemunho e lavagem de dinheiro. Apenas Nazareth está preso. O GLOBO não conseguiu contato com os demais citados.
“As empresas do Marcos Nazareth só existem no papel. Não têm funcionários, não prestam os serviços, não têm clientes. A sede fica na casa dele. As duas firmas foram abertas exclusivamente para fechar contratos com o Poder Municipal e, assim, lavar dinheiro obtido com o crime. O Marcos ainda tem vínculos com o tráfico, o curral eleitoral dele está justamente nas áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Nessas regiões, só candidatos apoiados por eles conseguem entrar”, segundo a Promotora Tatiana Kaziris, responsável pela investigação que levou o candidato à cadeia.
Não é a primeira vez que uma investigação revela a infiltração do tráfico na prefeitura de Arraial do Cabo. Em 2014, a Polícia Federal (PF) prendeu Francisco Eduardo Freire Barbosa, o Chico da Ecatur, então presidente da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Turismo (Ecatur), autarquia responsável pelo serviço de limpeza das ruas da cidade. A investigação concluiu que Chico usava a estrutura do órgão público para lavar o dinheiro da quadrilha de seu filho, Carlos Eduardo Rocha Freire Barboza, o Cadu Playboy, chefe do tráfico da região e também integrante do CV.
A ocultação do dinheiro se dava, segundo a PF, a partir da contratação de funcionários fantasmas e de desvios oriundos de licitações fraudulentas. “As ações criminosas foram perniciosas no sentido de fundir o poder político com o poder do narcotráfico e de manter desvios de recursos públicos”, escreveu o juiz Márcio da Costa Dantas ao condenar Chico da Ecatur, em 2017. Sentenciado a 11 anos e 9 meses de prisão, ele conseguiu o livramento condicional da pena e foi libertado em março do ano passado.
Segundo matéria do Jornal O Globo a atuação do crime organizado e do tráfico de drogas em Arraial do Cabo remonta aos governos de Andinho, via Chico da Ecatur e Renatinho Vianna, via Marquinhos de Nicomedes.
Marquinhos de Nicomedes faz campanha de dentro da cadeia onde está preso e alega ser um ‘preso político’.
. Com informações do Globo